quinta-feira, 31 de outubro de 2013





Pequenas, fáceis de perder, mais fáceis ainda de se gastar estas são as moedas, presente nas mãos de vários segmentos sociais e donas de uma grande popularidade e circulação elas guardam informações preciosas, mistérios, curiosidades, mas principalmente história, as moedas têm tanta importância que até mesmo uma ciência fora criada para seu estudo, com teorias, técnicas de análise e cátedras nas maiores universidades do mundo (Numismática).
As moedas não são somente simples objetos de câmbio ou troca comercial com valor estabelecido. Em toda moeda, seja ela atual ou não existem aspectos iconográficos (símbolos, inscrições em alto ou baixo relevo) que nos mostram determinadas práticas e aspectos culturais de alguma sociedade, só por este fator, vemos a importância do registro que as moedas trazem para o entendimento das sociedades humanas sejam sociedades antigas ou atuais, até as moedas hoje em dia estão aparentemente ligadas só com o meio econômico, mas nem sempre foi assim…
As moedas tal como conhecemos (discos de metal precioso) surgiram na Lídia (Ásia menor) no séc. VI a.C. Os chineses já utilizavam objetos parecidos, mas que não tinham a forma de disco como nossas moedas. Os gregos por sua a vez logo assimilam esse conhecimento fenício e o aperfeiçoam. Na Grécia teremos a utilização em massa pelas cidades-estado das moedas e lá também podemos observar uma peculiaridade, as moedas geralmente terão um maior valor a partir de seu peso (o que identifica a maior concentração de metal precioso), mas como já havia citado as moedas possuem um caráter muito mais que econômico, geralmente religioso, se tomarmos como exemplo o tetradracma ateniense¹ (aproximadamente 200 anos a.C.) mostra em seu reverso (coroa) uma coruja, um ramo de oliveira e as letras gregas AƟE (ATE em português) uma abreviação do nome da deusa Atena e geralmente uma ânfora de azeite e em seu anverso (cara) o busto da deusa, todas as imagens fazem alusão a deusa Palas Atena: a coruja seu animal preferido e símbolo da sabedoria, o ramo de oliveira e a ânfora remetem-se ao mito de nomeação do patrono da cidade de Atenas, disputa em que Atena fez brotar da terra a oliveira, símbolo da cidade e venceu seu rival Poseidon. Toda essa alusão à mitologia grega esta presente no sistema monetário da Grécia e não só os gregos, mas grande parte dos povos da antiguidade, o próprio nome moeda (do latim, moneta) tem sua origem na deusa Juno Moneta a qual em seu templo em Roma cunhavam-se moedas.
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1 - Tetradracma ateniense

Historicamente a religião sempre esteve ligada com política e não é diferente no caso das moedas, muitos líderes, reis e governantes se aproveitaram da mobilidade deste objeto para mostrar seu poder, Alexandre O Grande (356 a.C – 323 a.C) fez cunhar sua efígie nas moedas sempre com um teor divino. Primeiro evidenciamos umtetradracma alexandrino² em que o busto de Alexandre aparece ornamentado com a pele do leão de Nemeia no anverso, enquanto no reverso vemos uma figura de Zeus Olímpico sentado no trono segurando uma águia, uma ânfora ao fundo e a inscrição em grego AΛEΞANPOΣ (Alexandre em grego), estes símbolos reforçam a ideia de um Alexandre divino, o leão de Nemeia faz alusão ao primeiro trabalho de Heracles (Hércules para os romanos), onde o semideus derrota o temível monstro, arranca sua pele e a usa como troféu, Alexandre não se utiliza da imagem de Heracles à toa, o conquistador acreditava que descendia de Heracles pela família de seu pai (Filipe II) e do heroi da Odisseia, Odisseu (Aquiles) pela linhagem de Olympia, sua mãe. Assim o mesmo é também filho de Zeus, o que explica o simbolismo no reverso da moeda, Zeus com seu animal preferido a águia e um cetro em mãos, numa posição de comando e certamente divina, a ânfora tanto simboliza as libações e sacrifícios à Zeus e por fim vemos o nome de Alexandre em grego. Todas essas informações podem passar despercebidas para nós, mas na época da circulação da moeda era cultivado que o rei macedônico era um deus.

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2 - Tetradracma alexandrino.

O uso político das moedas não fica só remoto à antiguidade, no mundo contemporâneo podemos observar diversas moedas que denotam o poder político repleta de simbolismos, o Pound (libra esterlina)³ moeda britânica ainda possui a efígie de seus monarcas e os inúmeros símbolos que remetem a coroa britânica (principalmente o leão). E nossa moeda ela não possui nada em especial? Aí que nos enganamos, a moeda e cédula brasileira esconde muitas vezes aspectos importantes da história brasileira, principalmente da consolidação do imaginário da república e da história tradicional que fora (e ainda é) incutida na cabeça de muitos brasileiros.(uma análise mais detalhada do Real ficaria para uma próxima matéria).
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3 - Libra esterlina 

É de suma importância conhecer a história e as novidades de outras importantes ciências como a arqueologia, numismática, antropologia… E muitas outras ciências praticamente desconhecidas e que exercem um forte papel na sociedade. As moedas em específico passam despercebidas pelas nossas mãos e esquecemos-nos de enxergar nas pequeninas a enorme contribuição e saber que elas podem nos proporcionar.
Fontes:
·         COSTILHES, Alain Jean. O que é Numismática. Editora Brasilense. São Paulo. 1985
·         MENEZES, V. H. S. As moedas como documentos para os estudos de História e Arqueologia. Laboratório Virtual de Arqueologia Pública, 26 de Novembro de 2012.


O preconceito racial tem raízes profundas na cultura e história brasileiras. É uma nódoa indelével, cuja existência não podemos negar. A materialização do preconceito, expressa em objetos cotidianos, contribui para a conscientização de quem somos nós e os outros, nos museus.

Essa coleção foi organizada por Emanoel Araujo, ao longo de trinta anos. Ela é constituída de objetos nacionais e internacionais e sua apresentação como exposição é um convite à reflexão sobre o preconceito e sua permanência perversa, mesmo 125 anos após a abolição da escravatura no país.

Museu Afro Brasil
Av. Pedro Álvares Cabral, s/n
Parque Ibirapuera - Portão 10
São Paulo / SP - Brasil - 04094 050
Fone: 55 11 3320 8900
http://www.museuafrobrasil.org.br/

Para mais informações acesse o site do Museu Afro-brasileiro

Instrumentos musicais e danças dos negros


Robert Walsh
Os negros trazem consigo a sua linguagem e os seus costumes, que continuam no Brasil, idênticos aos do seu lugar de origem, de onde vieram muito recentemente. A linguagem é tão diversificada por dialetos que uma tribo não compreende a língua da outra. Quando escravos de uma mesma casta trabalham juntos, eles se movimentam ao som de certas palavras, entoadas numa cadência melancólica, começando numa nota mais aguda e terminando numa mais grave. Formando uma longa fila, carregando coisas na cabeça, eles cantam enquanto caminham, e isso pode ser visto todos os dias em quase todas as ruas do Rio. Parecia-me tratar-se de uma espécie de canção nacional e fiquei particularmente curioso para saber o seu significado, mas ninguém soube interpretar as palavras para mim; e os negros, quando consultados, não quiseram dizer ou fingiram não saber, como se se tratasse de algo secreto, do qual fizessem mistério.
Sua música utiliza vários instrumentos. O primeiro consiste numa espécie de guitarra tosca, feita com uma cabaça atada a uma vara, sobre a qual é esticada uma única corda feita de tripa e que é tocada com o auxílio de um tosco arco de crina de cavalo. Três ou quatro notas muito plangentes se fazem ouvir quando é passado o dedo ao longo da corda. Geralmente o menestrel toca para um grupo de pessoas sentadas à sua volta, formando um círculo, as quais cantam em coro acompanhando a música. Outro instrumento é composto de uma meia cabaça contendo uma série de varetas de ferro dispostas paralelamente e achatadas numa das extremidades, semelhando as teclas com os polegares, obtém-se um som tilintante, como o de uma espineta. Esse instrumento é muito popular. Todo escravo, logo que pode, arranja um, e enquanto se esfalfa na sua vida de labuta, vai arrancando dele notas singelas, que parecem aliviar o seu fardo, como se fosse sua grata testudo, laborum dulce lenimen. Há ainda um terceiro instrumento, feito com uma simples corda esticada sobre uma vara de bambu, à semelhança do que já descrevi antes para você e que vi na Chapada do Mato, em Minas Gerais.
Esses instrumentos são usados sozinhos ou com acompanhamento de canto. Creio que são geralmente conhecidos pelo nome de marimba, embora o termo se refira mais especificamente ao que é feito com varetas de ferro. Há ainda outros, usados para acompanhar as danças, que são uma das paixões dos negros. Um deles é feito de tronco de árvore oco, coberto numa das extremidades com um pedaço de couro bem esticado. O executante fica montado sobre o tronco e bate com as palmas das mãos sobre o couro, produzindo um som muito alto, que é ouvido a grande distância. Esse tambor provoca uma reação extraordinária em todos os negros situados dentro do seu raio de alcance. Há um pequeno relvado em São José, perto do Chafariz, onde os negros se reúnem todos os domingos, para dançar. O tocador bate no tambor convocando os dançarinos. As primeiras batidas, que são ouvidas por toda a cidade, têm um efeito eletrizante; os negros surgem de todos os pontos, e em pouco tempo sua alegria chega às raias do frenesi. Eles dançam, cantam, berram, fazendo ecoar a sua algazarra por toda a redondeza.
Em lugar desse tambor às vezes são usados dois ossos, que os dançarinos batem um contra o outro. O acompanhamento é feito por um instrumento do tamanho de uma pimenteira tendo no interior alguma coisa chocalhante; é dotado de um cabo, e quem o mantém acima das cabeças dos participantes. Enquanto o resto bate os ossos um contra o outro, ele sacode o chocalho, marcando assim o compasso. Essa maneira de marcar o ritmo da dança foi observada por mim em Matança.
As danças começam com um movimento lento de duas pessoas, que se aproximam uma da outra com um ar tímido e hesitante, depois recuam envergonhadas; paulatinamente, o ritmo da música vai-se acelerando, a timidez vai diminuindo e a dança acaba adquirindo um caráter indecoroso totalmente impróprio para ser visto ou descrito. Às vezes, a dança é diferente, com os dançarinos dando saltos, gritos, lançando os braços acima da cabeça uns dos outros com ar feroz. A primeira é uma dança amorosa, a segunda uma dança guerreira. A dança parece ser a grande paixão dos negros e seu grande consolo, tornando suportável a sua escravidão. Segundo pude observar, toda vez que um grupo deles se encontrava na rua, na estrada ou na porta de uma venda, eles logo organizavam uma dança; e quando não havia nenhum instrumento disponível, o que era raro acontecer, eles usavam sua própria voz. Em todas as fazendas onde há um certo número deles, a noite de sábado é sempre dedicada a um baile, após as labutas da semana. Uma fogueira feita com lenha ou sabugo de milho é acesa num galpão, e ali eles se reúnem e dançam até o dia amanhecer.
(Walsh, Robert. Notícias do Brasil; 1828-1829. Belo Horizonte, Editora Itatiaia; São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1985, v.2, p.157-158)
Para mais informações acesse a página Jangada Brasil



Vídeo feito pela revista Super Interessante mostra a história do samba num infográfico animado. para acessar o infográfico clique aqui!